A ex-vereadora Maria Aparecida Franco relata momentos da política itapeviense em entrevista

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No mês dedicado à celebração do Dia Internacional da Mulher, revisitamos uma entrevista com Maria Aparecida Franco, a primeira vereadora eleita para a Câmara Municipal de Itapevi, que exerceu dois mandatos entre 1969 e 1977. Durante a conversa, ela compartilha insights sobre sua trajetória na vereança, sua ligação com a cidade, filiação partidária e outros temas relevantes. A entrevista foi concedida em 2020, via e-mail.

CMI – Quem é Maria Aparecida Franco?

Maria: Sou filha de agricultores, nascida na cidade de Joanópolis, Estado de São Paulo, de ascendência portuguesa e italiana. Cresci em Sorocaba, São Paulo, e mudei-me para Itapevi em 1960. Cursei Contabilidade e, por muitos anos, geri um escritório contábil na cidade. Posteriormente, estudei Direito com ênfase em Direito da Empresa, atuando na área fiscal e tributária em São Paulo até 2018.

CMI – O que a motivou a ingressar na política eleitoral?

Maria: O convite veio do então Prefeito Rubens Caramez. Cresci em uma família matriarcal, com raízes políticas. Aceitar o convite foi uma resposta ao chamado do sangue político, influenciada por experiências familiares e opositores políticos marcantes.

CMI – Além do antigo Arena, filiou-se a algum outro partido?

Maria: Fui filiada ao PSDB por um curto período, mas já não residia em Itapevi na época.

CMI – O bipartidarismo intensificava a competição eleitoral ou o voto era mais pessoal do que partidário?

Maria: Na época, a disputa eleitoral girava em torno de dois nomes: Rubens Caramez e Romeu Manfrinato. A lealdade partidária se refletia na fidelidade à liderança de Caramez e na oposição constante ao Prefeito Osmar de Sousa, indicado por Manfrinato.

CMI – Quantas eleições disputou e quantos mandatos exerceu na Câmara Municipal de Itapevi?

Maria: Disputei três eleições, sendo duas para a Câmara Municipal de Itapevi, onde fui a vereadora mais votada da Arena no primeiro mandato. Além disso, concorri a uma eleição para prefeito, mas fui derrotada por Jurandir Salvarani.

CMI – Quais foram seus principais projetos defendidos no plenário?

Maria: Dentro das limitações do cargo na época, sempre busquei a inclusão de bairros afastados em melhorias realizadas pela administração municipal. A fiscalização rigorosa do orçamento, dada a sua escassez em Itapevi, foi uma prioridade, e nossa bancada, mesmo pequena, permaneceu atenta ao uso dos recursos públicos.

CMI – Pode descrever brevemente a relação entre Legislativo e Executivo na sua gestão como vereadora?

Maria: Os vereadores da ARENA, embora não baseassem suas ações na filiação partidária, fiscalizaram as ações do Executivo devido à oposição entre os líderes municipais Caramez e Manfrinato. Houve um pedido de impeachment do Prefeito Osmar de Sousa, mas, apesar das irregularidades apontadas, não resultou em sua cassação.

CMI – Como a primeira mulher eleita na cidade, quais eram os obstáculos para as mulheres na política naquela época?

Maria: Como precursora, não enfrentei obstáculos significativos, talvez devido à novidade da presença feminina na política local. Fui recebida de maneira cordial e respeitosa na Câmara Municipal, e fora dela, sempre respondi às questões de acordo com minhas ações e direitos.

CMI – Haviam muitas mulheres candidatas na cidade durante suas eleições municipais?

Maria: Nas duas eleições em que participei, fui a única candidata feminina.

CMI – Como avalia a representatividade feminina na política após a implementação da lei de cotas para candidatura de mulheres?

Maria: A Lei de Cotas deu voz às mulheres, antes excluídas da política partidária. Embora nossa representatividade ainda seja limitada devido a desafios como a jornada tripla, avançamos. No futuro, a participação feminina será mais do que uma obrigação legal, será um reconhecimento de seu valor e desempenho pela sociedade.

CMI – Pode fazer uma avaliação do desenvolvimento da cidade?

Maria: Após minha mudança para São Paulo, visitei pouco Itapevi, mas pessoas próximas relatam uma cidade renovada, com obras voltadas para o cidadão e sua mobilidade, sob a gestão dinâmica do prefeito Igor Soares.

CMI – Nas últimas duas legislaturas, tivemos três vereadoras eleitas. Gostaria de enviar uma mensagem para elas e para as futuras mulheres que ocuparão a vereança em Itapevi?

Maria: A experiência como vereadora foi um aprendizado valioso, mesmo durante a restrição imposta pela Ditadura Militar. A participação feminina na política é uma caminhada que começa com um passo, e espero que a Lei de Cotas seja lembrada como um instrumento de inserção, não apenas por obrigação legal, mas pela valorização e desempenho das mulheres. A jornada pode ser longa, mas o sucesso é possível.